Saúde
Psoríase
Apesar de não ser contagiosa, afeta profundamente a autoestima e a qualidade de vida do paciente em suas atividades diárias
Foto: Divulgação - As consequências da psoríase diminuem a qualidade de vida dos pacientes, visto que há uma limitação física em decorrência das lesões e também um comprometimento emocional
Uma doença inflamatória crônica, imunomediada, que tem as suas consequências muito além das percebidas na pele. Ela também pode afetar as articulações, podendo ocorrer inchaços e rigidez, além de aumentar o risco de doenças cardiovasculares, depressão e ansiedade, doença inflamatória intestinal e demais doenças que afetam o metabolismo. É o que explica a dermatologista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Joice Göebel. “As doenças de síndrome metabólica são desencadeadas por um conjunto de fatores como obesidade, diabetes, hipertensão arterial, aumento de colesterol e triglicerídeos. Além de promover grande impacto negativo para a saúde dos pacientes acometidos, a psoríase causa dano devastador na qualidade de vida pela limitação física em decorrência das lesões e o comprometimento emocional.”
Caracterizada por áreas vermelhas com descamação variável, a psoríase pode ser localizada ou atingir grandes áreas corporais, desde o couro cabeludo, unhas e áreas íntimas. Estas lesões, em geral, são acompanhadas de coceira, queimação e dor. A enfermidade pode ainda provocar diferentes alterações na saúde geral do paciente, tendo como sua causa o fator genético, já que ela é fruto de um desequilíbrio imunobiológico, mas fatores ambientais e o stress podem ser importantes agravadores dos sintomas. Se manifestando, na maior parte dos indivíduos, entre os 20 e 40 anos, com gravidade variável, podendo apresentar desde formas leves e facilmente tratáveis até casos muito extensos, que podem levar à incapacidade física, acometendo também as articulações.
Para Aline Teixeira, 38, diagnosticada ainda na adolescência, desde então a busca por um tratamento efetivo para a melhora das lesões da pele e equilíbrio do seu emocional fizeram com que percorresse uma série de consultórios médicos e viajasse em busca de tratamentos e medicações que nem sempre apresentavam resposta positiva. Ela conta que, além da dor dos ferimentos que a psoríase causava na sua pele, sua autoestima ficava profundamente abalada, tanto pela aparência ou pelas reações das pessoas. E era justamente nestes momentos que acabava sentindo piora nos sintomas. Para lidar com isso, passou a realizar atendimentos de psicoterapia desde que foi diagnosticada.
“Lembro que começaram com umas manchinhas na região do púbis, naquela época tinha pouquíssima informação. Fui a vários médicos, fiz muitos exames, até ter o diagnóstico. Não existia um tratamento específico, os médicos receitavam pomadas com corticóide que eram super eficazes, mas se parasse de usar, a lesão voltava. Eu tive uma piora muitao rápida e cheguei a ter 90% do corpo comprometido pela doença, foi quando causou um impacto maior na minha vida. Parei de estudar, passei por vários tratamentos, procurei diversas alternativas, curandeiros, fui até São Paulo com a esperança de encontrar um remédio milagroso. Existiam remédios importados, mas nenhuma medicação específica para psoríase que tivesse solução para o meu caso. Até que conheci uma médica dermatologista que fazia uma terapia com luz, chamada fototerapia, e foi o que me ajudou naquela época. Eu tomava uma medicação, era parecido com bronzeamento artificial e aliviava bastante as lesões. Com a melhora da psoríase eu fiquei psicologicamente melhor e pude retornar à minha vida e com isso a doença ficou um tempo adormecida.”
Aline lembra que, alguns anos depois, as lesões na pele retornaram, aparecendo mais no couro cabeludo, cotovelos e pernas. Foi quando iniciou tratamento com outro remédio, também usado por quem faz transplante renal, mas que em testes dava resultado contra lesões de psoríase. Contudo, a substância representava risco para rins e fígado. “Depois de um tempo, abandonamos essa medicação e comecei um novo tratamento, dessa vez com uma médica reumatologista, que é a médica que me acompanha até hoje. No início, quando eu tinha 17 anos, foi muito difícil. Passei por muito preconceito, até hoje passo por situações de constrangimento, as pessoas perguntando o que é, se estou com alguma alergia, mas nada parecido com o que vivi no começo da doença”, recorda.
Já para a jornalista e relações públicas Mariana Loureiro Duarte, 38, que recebeu o diagnóstico em dezembro do ano passado, embora não tenha sido tão surpreendente pelo fato de ter familiares com a doença, a aceitação e adaptação da rotina foi bastante complicada. Ela conta que por muito tempo já convivia com sintomas, mas associava a questões capilares. Hoje em dia diz perceber que alguns fatores podem intensificar os sintomas, como estresse, maus hábitos alimentares e banhos muito quentes no inverno.
“Recebi o diagnóstico há pouco tempo e é a primeira vez que estou falando sobre isso. Poucas pessoas sabem que tenho essa doença autoimune, pois de fato ela carrega um estigma, pois é algo visível e que afeta a imagem e o emocional da pessoa. No meu caso, a psoríase só se manifestou no couro cabeludo. Mas demorei a ter um diagnóstico pois achei que eu tinha caspa apenas. Mas percebia que em alguns momentos a descamação intensificava. Como é uma doença que não tem cura, eu preciso tratar permanentemente.”
Segundo Mariana, atualmente ela não está mais em crise da doença e tem usado apenas shampoo específico e algumas gotas no couro cabeludo. Em períodos anteriores, chegou a aplicar pomada, ácido salicílico para descamar o couro cabeludo e tomar corticoide. “Descobri também que tenho sensibilidade ao glúten e o quanto isso está ligado à minha psoríase, e que tem total ligação com o emocional e o intestinal. É a mente e o intestino que dão os gatilhos para as crises. Além dos sintomas tradicionais desencadeados quando eu consumo glúten, inchaço, dores abdominais e até vômito, outra consequência é a crise de psoríase”, relata.
Mariana afirma estar se recuperando, já que no ano passado, nesta época, perdia tufos de cabelo. “Para mim não foi uma supresa o diagnóstico, pois tenho outros casos na família, mas demorei bastante a aceitar que teria que conviver com essa doença por toda vida e adequar meus hábitos. Exercício físico é outra coisa fundamental para manter esse equilíbrio de saúde.”
Tipos
Psoríase em placas
Esta costuma ser a apresentação mais comum da doença. As lesões de tamanhos variados, avermelhadas, com escamas esbranquiçadas, costumam coçar e, algumas vezes, podem apresentam dor local. São mais comuns de surgirem os ferimentos nos joelhos, cotovelos, couro cabeludo, região lombar e cicatriz umbilical, mas podem ainda atingir qualquer parte do corpo, inclusive genitais. Em casos graves, a pele pode rachar e sangrar.
Psoríase ungueal
Afeta as unhas, tanto das mãos quanto as dos pés, surgem depressões puntiformes ou manchas amareladas fazendo com que a unha cresça de forma anormal, engrosse, escame, mude de cor. Em alguns casos, a unha pode acabar descolando do leito e até cair.
Psoríase do couro cabeludo
Se assemelha à apresentação da caspa. É possível perceber a escamação da pele nos cabelos, especialmente depois de coçar o couro cabeludo, quando surgem áreas avermelhadas com escamas espessas esbranquiçadas, sintoma que é característico nesta localização.
Psoríase gutata
Geralmente associada a processos infecciosos. É caracterizada por pequenas feridas em forma de gota no tronco, nos braços, nas pernas e no couro cabeludo. As feridas são cobertas por uma fina escama, diferente das placas típicas da psoríase, que são mais grossas. Este tipo acomete mais crianças e jovens antes dos 30 anos.
Psoríase invertida
Atingindo principalmente dobras e áreas úmidas do corpo, como axilas, virilhas e a região embaixo dos seios. São caracterizadas por manchas inflamadas e vermelhas. O quadro pode agravar em pessoas obesas ou quando há transpiração excessiva e atrito na região.
Psoríase pustulosa generalizada
Nesta forma, podem ocorrer pústulas, que são pequenas bolhas que parecem conter pus, sobre a pele que se apresenta intensamente avermelhada. Pode ocorrer em todas as partes do corpo, podendo ainda causar febre, calafrios, coceira intensa e fadiga.
Psoríase palmoplantar
As lesões aparecem como fissuras nas palmas das mãos e solas dos pés, causando desconforto e dor devido à inflamação, além do endurecimento da pele.
Psoríase eritrodérmica
Esta é o tipo menos comum. Acomete todo o corpo com manchas vermelhas que podem coçar ou arder intensamente, levando a manifestações como febre e calafrios. Ela pode ser desencadeada por queimaduras graves, tratamentos intempestivos, infecções ou por outro tipo de psoríase mal controlada, chegando a ter lesões generalizadas em 75% ou mais do corpo.
Psoríase artropática
Manifestação deste tipo acomete as articulações, causando fortes dores, mais comumente ao iniciar o movimento da articulação e tende a melhorar com o movimento contínuo. Pode causar rigidez progressiva e até deformidades permanentes. Pode afetar qualquer articulação do corpo, inclusive a coluna vertebral.
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